segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Mochilão na Patagônia (Parte I )

 Fiz esta viagem totalmente sem saber o que esperar e nem o que era um mochilão. Nem se quer pesquisei sobre os locais que eu percorreria, só fui porque a pessoa que estava comigo na época me convidou e eu "meti a cara" e aceitei.
 Em vários momentos da viagem eu quis voltar, fiquei com muito medo de certos trechos, tive medo de morrer e ficar na beira da estrada como indigente, medo de me perder e alguém me estuprar, tive medo de escorregar e despencar das montanhas e da geleira. Foi uma viagem cheia de emoções fortes e, quando acabou, eu queria fazer outra!  Foi aí que eu entendi o que era um mochilão e como vicia mesmo viajar. Que quando o medo nos vence a gente só faz regredir, perde o melhor da vida e eu teria perdido muito se eu não tivesse seguido em frente. Descobri que o tipo de turismo que me atrai é cultural, histórico e ecológico. Que você só conhece e entende o lugar que visita se andar, comer, dormir e conhecer os locais que os nativos frequentam, o resto é mais maquiagem para impressionar turistas e vender lembrancinhas. Não que seja algo ruim, tem quem goste. Respeito.
 Desde, então, meu objetivo de vida se tornou ter uma fonte de renda estável para garantir que eu possa viajar, pelo menos a cada dois anos. Ainda não consegui, mas vivo na luta. Como é um "resumão", não vou detalhar o que fiz em cada dia da viagem para não ficar muito extenso. Se interessar a você saber sobre cada cidade eu faço um post falando sobre cada uma.


1- Buenos Aires

Comprei um "Guia Criativo para O Viajante na América do Sul" no aeroporto de Guarulhos/SP. Quando cheguei em Buenos Aires/AR, no aeroporto Ezeiza, procurei no livro uma hospedagem baratinha e bem localizada e vi o endereço e valores do Recoleta Hostel e gostei, quis ir para lá mesmo. No Aeorporto tinha um guichê onde se comprava um ticket para ônibus que deixava num ponto onde carros (remises) levavam os passageiros até o hotel. Até aqui eu não falava um "ai" de espanhol, estava com medo de me perder e não sei de onde tiramos a ideia de pegar este ônibus, mas deu certo!  Em 40 minutos mais ou menos, chegamos ao Recoleta Hostel. Adorei, pena que o café da manhã (desayuno) é fraquíssimo. Depois vi que isso normal na Argentina e passei a me adaptar aos novos sabores. Fiquei lá por quatro dias conhecendo Buenos Aires. Andei bastante e conheci muita coisa, mas essa é uma cidade onde sempre se pode conhecer mais. O ponto alto de Buenos Aires foi ir a Estação Retiro e pegar um trem para a província de Tigre.

2- Delta do Tigre

 Fomos de trem passeando pelo litoral, vendo estações encantadoras, uma diferente da outra, com cafés e kioscos.

 Lá descemos numa estação que fica no centro, com um porto, lojas, lanchonetes, à beira do rio com uma brisa gostosa, sol, uma atmosfera maravilhosa. Vale a pena dar uma volta por ali, sentar, tomar um café e depois comprar a passagem de volta de barco. Sim! Volte de barco, catamarã ou lancha pelo rio Luján e desembarque no Puerto Madero.  Ao longo do caminho pode-se avistar lindas casas em pequenas ilhas e a vida da população local onde as crianças aprendem a nadar antes mesmo de andar, têm barcos mercadinho e ouve-se histórias da região. É emocionante. Tem gente que acha muito "paradão", mas eu adorei.



 Depois de quatro dias me locomovendo de metrô e ônibus em Buenos Aires, doida para ficar mais, chegou a hora de conhecer mais da Argentina. Só que enquanto eu deixei minha mochila no locker do hostel e fui me informar no centro antes de partir, roubaram o livro que eu ia usar para me guiar. O guia turístico citado acima. Estava amarrado com um elástico a minha mochila, mas quando eu voltei tinham levado e o pessoal do hostel não sabia quem tinha sido, pois o locker estava com um monte de outras mochilas e cada um que reconhecesse a sua e levasse, sem muita fiscalização. Interessante é que tinha o meu celular no bolso de fora da mochila sem tranca nenhuma e não roubaram, ainda bem (rs). MAS como eu já estava determinada a seguir em frente, usei a internet do hostel mesmo para me orientar, fiz umas anotações e segui para a estação Retiro, rumo a Mar Del Plata. 


3- Mar Del Plata

 Foi uma caminho longo que eu aproveitei para cochilar, pois não sabia o que me esperava lá. Estava sem guia, sem mapa e sem reservas. 
Quando cheguei na rodoviária, que era bem pequena, já fui logo abordada por várias pessoas que ofereciam hospedagem e faziam o traslado. Eu, entretando, peguei um táxi e fui atrás de uma hostel que eu tinha anotado o nome, na Calle Alem, perto da orla. Cheguei lá no hostel e... estava lotado! Botei a mochila nas costas e segui na mesma rua procurando uma placa de hospedaria, pousada, hostel, qualquer coisa. Achei um outro hostel e ... peeeen, estava lotado também. Mochila nas costas novamente e segui na busca por um teto rua acima. Encontrei vaga num hotel na mesma rua (que eu esqueci o nome =D), bem localizado como os outros, próximo à orla e barezinhos e perto de parada de ônibus. Deixei a bolsa lá, tomei banho e saí.  Aí aconteceu uma coisa, eu fiquei com medo mas foi engraçado depois. Eu peguei um ônibus e fui conhecer a cidade primeiro de ônibus para dar uma olhada geral e depois sair a pé. Só que peguei e fui até o fim da linha, pensando que ele faria o retorno e me traria de volta à mesma parada. Ledo engano! O terminal era numa área bem esquisita, meio pobre com ruas de barro, casebres e tava um frio de 12ºC, pois estava chegando a noite. Parecia que eu estava com o nome "brasileira" escrito na testa com um vestidinho frente única, uma rasteirinha e um lencinho enrolado no pescoço. Lá vou eu pela rua de barro, deserta, a pé, esperar outro ônibus que vá para a rua Alem. O motorista era o mesmo, ele riu e até me deixou bem mais perto do hotel, porque eu fui a última a descer de novo. Graças a Deus, deu tudo certo e a brasileira mochileira inexperiente voltou se tremendo de frio e pagando o maior mico.
 No outro dia eu saí a pé e mais preparada para encarar um possível frio de 12 graus heheh. Conheci a orla caminhando sem pressa, reparando em cada café, loja, parque, no cassino, etc. Depois, no centro, almocei num "tenedor libre" (almoço sem balança) bem legal, lá tem onde comer à vontade. Peguei um panfleto/mapa nas informações turísticas e fui de ônibus ou a pé mesmo, para cada um dos pontos indicados. 
 Como eu falei anteriormente, não dá para dizer que conheceu o lugar sem andar por onde o povão anda. E, no dia seguinte, fui eu comer comida de rua, comprar umas besteiras e interagir por ali. Conheci uns brasileiros (claro), comprei um ticket ("tarjeta") para andar mais uma vez de ônibus. Já passava das 17h eu tinha que seguir viagem. Voltei ao hotel, peguei a bolsa e segui de táxi para a rodoviária. Poderia ter ido de ônibus, mas estava cansadona de andar. Peguei uma passagem para sair de lá às 23h.
 A tática era dormir no ônibus leito ("coche cama") rumo ao próximo destino para aproveitar a noite dormindo e viajando e chegar de manhã para conhecer a próxima cidade. Perdi o ônibus distraída, conversando e tive que comprar outra passagem com saída de madrugada. Fiquei lá mesmo até dar a hora da saída.

 4- Bahía Blanca 


 Com todo o respeito aos moradores, nativos e admiradores da cidade, foi a pior parte da viagem até aqui. A cidade era pequena, nem tinha centro de informações turísticas, o banheiro da rodoviária estava muito sujo, o próprio funcionário que trabalhava lá num kiosco disse que não tinha nada para turista fazer ali. Nem porto, nem mercado, nem nada. Aí já comprei logo a passagem de ônibus de ida para a próxima cidade. Ou seja, ia ser um dia perdido. Então deixamos as mochilas numa residência ali em frente, onde se cobrava uns R$5,00 para guardar a bolsa. Eu deixei lá, porque o cidadão da rodoviária havia informado que era perigoso andar de mochila na cidade, pois os ladrões ficavam de olho (que não é muita novidade). Comprei a ele um mapa local e fui andar. Andei até o centro, depois até uma praça onde o pessoal se reunia para vender artigos artesanais, tomar um mate, comer choripan, etc. Muito fraco o movimento, mas pelo menos comi choripan rs 



Na volta me perdi, mesmo com mapa na mão!!! Eu tinha saído da área que aparecia no mapa. Chorei, rodei por ruas desertas, segui a linha do trem, pedi informações num posto onde a atendente parecia me odiar e indicou o caminho errado, pedi informação num carro de polícia (fiquei com medo até da polícia), mas consegui chegar a rodoviária de volta. Peguei a bolsa e parti dali no fim da tarde. Próximo destino, Viedma. Escolha aleatória de novo. 

5- Viedma


 Cheguei à noite, sem reservas, sem mapa, pouca gente desembarcou lá, e todo mundo me olhava,  parecia que a rodoviária ia fechar e só tinha um taxista ali disponível. Fui até ele e pedi para me deixar num hotel no centro ou perto do centro e não muito caro. Ele seguiu, me deixou no hotel, a corrida deu até cara, me espantei e comecei a preocupar com o gasto da viagem até ali, mas paguei e ele foi embora. Advinha ... Não tinha vaga! kkkkk
 Lá vai a brasileira de noite e a pé com seu companheiro de viagem procurar um lugar para dormir. Andamos muito, meio perdidos mesmo, até o centro de informações turísticas que estava fechado, claro, e ficamos ali pensando no que íamos fazer. Talvez esperar ali até o dia amanhecer para não ficar dando vacilo na rua de madrugada com as mochilas. Mas aí resolvemos andar só mais um pouquinho no que parecia ser uma orla bem escura. Achamos!!! Um hotel baratinho e bem aconchegante logo depois do hotel Austral que é bem mais caro. Ficamos num hostel mesmo. 
 No dia seguinte fui até o centro de informações turísticas e peguei um mapinha e pedi informações sobre o que fazer na cidade. Claro que dei aquela volta nas ruas, agora de dia e mais tranquila. Botei uma calça pra lavar na lavanderia, pois agora já tava ficando sem roupa limpa, porque só levei uma mochila. E fui conhecer Viedma, a capital da província de Río Negro e do departamento de Adolfo AlsinaFoi neste dia que vi como esta cidade é linda, as pessoas cuidam das calçadas e dos jardins como se fosse a coisa mais importante da vida delas, com um bom gosto e uma dedicação fora do normal. As ruas são limpas e a paisagem urbana casa com a paisagem natural á beira do Rio Negro.  Aqui se paga para atravessar o rio de barco e conhecer Carmen de Patagones que é uma área história bem fofa e romântica. Eu fui lá, claro, rua por rua.
 Agora vem a parte mais encantadora de ir a Viedma: conhecer o Balneário El Cóndor


 O ônibus te pega na parada da praça que fica na esquina da Av. San Martin com a 25 de Mayo e se paga em dinheiro mesmo. Em cerca de 45 minutos você desce em El Cóndor numa parada lá na entrada da cidadela. No dia que fui estava um vento realmente PATAGÔNICO, não tinha quase ninguém na cidade e nenhum lugar para comer. Então fui explorar a beleza da orla, mesmo que deserta. Num ponto (bem distante) o calçadão acaba e vamos para a areia que revela um paredão logo a frete, esplêndido e cheio de ninhos.




Não há foto que traduza a beleza dos condores voando sobre nós, saindo de seus ninhos em pequenos buracos numa paredão de pedra imenso. Aos nossos pés as águas límpidas e geladas do mar movendo o cascalho do chão de lá para cá. É um ótimo passeio para quem gosta de natureza e também de passeios em veículos offroad. Há empresas locais que vendem estes passeios.
 Lembre-se de perguntar ao motorista que te deixou lá, qual é a hora que tem ônibus voltando para o centro de Viedma, se não você dança, fica lá. Eu fiquei azul de fome na parada esperando o ônibus chegar e só tinha balas para vender na rua. Nem helados, pasteles, empanadas, nada.
 No fim do dia o frio já começava a bater de novo e eu de novo estava de vestidinho e rasteirinha, pois quando eu tinha saído de manhã estava o maior calor, como eu ia saber? Voltei no maior frio, ainda passei na lavanderia para pegar minha calça (deu R$10). Entrei correndo no hostel, me vesti e fui jantar lá na rua mesmo, numa lanchonete. Depois descansar para seguir ao próximo destino.

Até o próximo post!


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