Enfim a reta final do mochilão! Daqui pra frente a viagem
seria meio corrida, pois está acabando o tempo de férias e logo será hora de correr
para Buenos Aires e pegar o avião para o Brasil. Só que ainda estou de férias
num lugar incrível de paisagens fenomenais, pessoas maravilhosas, comida
deliciosa e vivendo uma experiência que me marcaria para sempre. Parti de Puerto
Natales (CL) para El Calafate (AR) de ônibus.
El Calafate(AR):
Nesta bela cidade
fiquei hospedada numa pousada próxima da rodoviária que fica bem no centro. Deixei
as coisas e fui rodar para conhecer. É basicamente uma avenida bem longa com
tudo ali no entorno. Muito frio, neve, restaurantes, cafés, supermercado.
Aliás, no supermercado do centro não oferecem sacolas, então tive que deixar as
compras no caixa e catar uma caixa de papelão para levar as comprinhas para a
pousada. Era basicamente biscoito salgado, suco, sanduíche gelado, salgadinhos
e torradinhas. Deu pra levar tranquilo, pois a pousada era pertinho. Deixei as
coisas organizadinhas no frigobar e fui passear de novo. Fiz umas comprinhas de
lembrancinhas na feirinha de artesanias y regalos, comi um assado com papas
fritas e vino.
Fui na agência Hieloy Aventura para fazer o mini trekking (caminhada sobre o Glaciar Perito
Moreno). Comprei para o dia seguinte bem cedo. Eles te buscam no hotel, te
levam lá ao Parque Nacional de Los Glaciares, você compra almoço lá ou come o
lanche que você levou, como eu fiz. Pode-se observar a geleira de frente, ouvir
os blocos gigantescos de gelo se quebrando e caindo na água fazendo o maior
estrondo. Uma obra da natureza que faz a gente procurar o nosso lugar como ser
humano pequeno e insignificante diante da força e beleza da natureza. Daí você
entra na lancha ou no barco que te leva ao mini trekking sobre glaciar Perito Moreno.
Alerta de Spoiler!
Este é o ponto alto da viagem. Depois de passar por isso, pouca coisa pode te
tocar tão profundamente. É um mix de medo de cair e sair escorregando até cair dentro
de uma fenda e morrer afogado na água glacial; de cair de cara, se cortar no
gelo e completar o passeio sangrando; e felicidade por ter esta experiência tão
mágica e tão singular. Mas vá! Só isso, vá. Nada do que você ler vai chegar
perto do que você pode sentir na pele.
O mini trekking é
guiado por uma pessoa que fala sobre a história, os acontecimentos recentes e
as medidas de conservação e preservação da natureza. É sempre muito bem-humorado e divertido, cheio de
interação e belas fotos. No fim (SPOILER) ganhamos doces ou alfajores, bebemos
da água da geleira e podemos tomar um whisky com gelo extraído do próprio
glaciar. Daí voltamos a lancha e fazemos o caminho de volta ao hotel.
Nada além de dois
dias aqui. Próximo destino Los Antíguos (AR) passando bem rápido por El
Chaltén, sem conhecer a cidade, pois o tempo urge.
Los Antíguos (AR)
Foi meio
decepcionante chegar aqui e não ter nada para fazer, só a cidade deserta, as
belas paisagens (claro) e uma pousada bem carinha. Na pousada mesmo abri um
vinho e tomei sozinha batendo papo com o recepcionista que era simpatiquinho,
mas não falou nada de interessante para se fazer ali. Então no dia seguinte fui
para a rodoviária pegar um transporte para o próximo destino, Chile Chico (CL).
Era pertinho, mas não rolou carona, a cidade tava deserta mesmo.
Chile Chico (CL)
O motorista da VAN
(sim foi numa van mesmo) era meio loucão, fez a viagem correndo muito e batendo
papo e rindo à beça. 20 minutos de viagem, no máximo. Nos deixou no centro da cidadezinha onde fazia o maior
vento! Sim, ventava horrores, balançava as placas, levantava poeira, dava nó no
cabelo, levava os brinquedos das crianças do parque. Como ali era só um ponto
de passagem para mim, fui direto procurar transporte para a próxima cidade,
pois não vi nada para fazer em um ou dois dias. Afinal, dizer que é um lugar
lindo já é excessivamente repetitivo. Acredite, não tem como achar nada ruim
por aqui, é lindo demais!
Foi complicado decidir o que fazer, pois eu
estava sem o guia e sem mapa e acabei acessando a internet de uma lan house
para conversar com a família e dar sinal de vida. Eu poderia ter lido mais sobre o meu destino, mas preferi deixar o acaso me levar. Nas informações turísticas não falaram nada de interessante. Depois é que eu descobri que tinha, sim, o que fazer ali. Mas já é um bom motivo para voltar, no futuro.
Eu poderia ter ido de
barco pelo lago Gen. Carrera e chegar logo ao outro lado, mas me recomendaram que
seria, definitivamente, mais bonito o percurso de ônibus. Então, lá vai ela...
Depois de tudo o que
vi e vivi até aqui, a pedida agora era conversar com as pessoas, perguntar sobre
a cultura e vida nos arredores, conhecer pontos turísticos, mirantes, comer em
locais interessantes, tomar cervejas e vinhos. É uma área erma que te leva
mesmo a introspecção ou aos esportes. Eu fiquei na introspecção e nas
amizades de passagem. Segui para La Junta (CL). Ainda me pergunto porque eu fui para La Junta! Mas eu fui e pronto.
La Junta (CL)
Aqui fiquei numa
hospedaria toda de madeirinha rústica, com gente de várias partes do mundo com
seus equipamentos de trekking e esportes. Conversei bastante com gente de
Israel e argentinos, além do povo local, chileno. Como eu não ia praticar
esporte nenhum e já estava fazendo um programa meio repetitivo de conhecer os
arredores a pé e bater papo, fui procurar uma passagem para ir embora..., Mas só
tinha ônibus para a sexta, e ainda era terça! Eu fiquei surtada sem saber como
sair dali, pois não iria passar uma semana sem fazer nada naquela cidadezinha
tããão pequena e quietinha. Foi como um tapa na cara BUF. A vida disse “aprenda
que não é sempre do jeito que você quer!” Paguei a conta da Hospedaria, peguei
minha mochila e fui, humildemente, para a saída da cidade hacer dedo (pedir
carona).
Como é um lugar mal
servido de transporte público, todo mundo que tem carro, caminhão, caminhonete,
dá carona tanto para os moradores quanto para os turistas. Fiquei lá com o dedo
pra cima até que um cidadão numa caminhonete nos levou para uma cidade próxima. No caminho ainda subiu uma mulher com uma
trouxa de roupas e um cachorro! Sim, eles foram na carroceria mesmo! OH povo
gentil! Amo para sempre os chilenos, eles ajudam mesmo, no que podem. Ele nos deixou em Puerto Guadal. Um pedacinho
do paraíso ali escodidinho nos confins da Patagônia.
Puerto Guadal (CL)
Encontramos aqui, depois de pedir dicas a um
casal de espanhóis, onde ficar hospedado por um precinho em conta, eles recomendaram
o lugar que também tinham escolhido, a pousada La Lomita no centro, pertinho de
tudo (ou do nada mesmo neste caso). Com cavalos disponíveis para cavalgada, uma
casa toda de madeira feita pelo próprio dono para morar com sua esposa, uma
senhora bem gordinha que cozinhava o dia inteiro e fazia maravilhas nas
refeições, móveis rústicos e antigos, mantas de pele por toda a casa,
cadeirinhas no terraço, hortinha no terreno, fogão a lenha bem grande, uma
vista de cinema para o lago General Carrera.
Deixamos a mochila, tomamos aquele
banho e fomos conhecer o centro... nada além de lindas casinhas de madeira,
todas as ruas com plaquinhas de tinham a palma de uma mão com o nome da mesma
escrito em baixo. Bem agradável, friazinha, calma, linda. Fiquei ali por uma
noite apenas, pois no dia seguinte passaria um ônibus para a próxima cidade,
Coyhaique. Como eu vim saber só a noite que podia andar a cavalo, perdi de
fazer este passeio. Às 9h do dia seguinte saímos sobressaltados num transporte
pago até a rodovia quase deserta que encontrava a Carretera Austral para
esperar passar o ônibus que levava passageiros para Coyhaique... mas ele passou
com apenas 2 lugares livres e aquele casal de espanhóis entrou logo e pegou.
Mui amigos!
Ficamos lá, eu e meu
parceiro de viagem, com uma mochila cada um, sob o sol, na poeira da estrada, esperando
pegar uma carona que só poderia cair do céu mesmo. Talvez voltar para Puerto
Guadal a pé e tentar pegar outro ônibus no dia seguinte. Eu só pedia para não
morrer ali, porque eu tinha uma filha me esperando em casa. Se eu não tivesse
ninguém, talvez eu tivesse partido andando sem rumo achando que era o fim da
linha e que eu seria encontrada por algum malfeitor que daria sumiço no meu
corpo, ali no meio da estrada abandonada. Eu só pensava nas atrocidades que
acontecem nas estradas aqui do Brasil, nas pessoas estupradas, desaparecidas do
mapa. Foi a vida novamente, desta vez num sussurro ao meu ouvido: “Tenha calma,
só vai dar certo se você fizer dar certo. Fé em Deus, porque agora é com Ele, fique e espere”.
E advinha? Passou uma
caminhonete com apenas um lugar livre. Era um cidadão indo para??? COYHAIQUE!
Ele ofereceu o lugar livre pra levar um de nós e o outro poderia ir na
caminhonete do pai dele que viria logo atrás. E não é que deu tudo certo mesmo!
Um casal de idosos parou e se ofereceu para me levar! Eles estavam com sua
netinha, Antonita, que foi uma simpatia a viagem inteira. Eu tava com medo, mas
a estas alturas eu tinha que arriscar, acreditar mais no ser humano. “Segura na
mão de Deus e vai!”. Eu ainda economizei pois eles não aceitaram pagamento
nenhum em troca da carona. Nem gasolina, nada. Fomos conversando a viagem
inteira, fazendo aquele lindo caminho da Carretera Austral, Puerto Tranquilo,
Bahía Murta, Villa Cerro Castillo, com vista para as águas que brilhavam com a
luz do sol. Cenas de um sonho que vivi. Foi uma viagem de quatro horas. Com
cascalho, vegetação, neve. Paramos na hora do almoço num restaurante de estrada
onde encontramos o casal de espanhóis e toda a turma do ônibus. E eu, é claro,
fui lá, dar uma de simpática e esfreguei na cara deles o tour gratuito que
ganhei depois da falta de parceria deles. Paguei pelo almoço muito bem servido
com sopa de entrada, cordeiro assado, arroz e vegetais e uma sobremesa. Enchi a
barriga, paguei barato DEMAIS e seguimos viagem conversando e rindo. Deu aquele
sozinho de depois do almoço e eu apaguei no banco do passageiro. Acho que eu
dei uma boa roncada, porque quando acordei estavam os três rindo =D Que
vergonha kkkkk Mas, mesmo assim, não perderam a esportiva, a netinha não parava
de conversar e mostrar sua bonequinha, eles falavam sobre o lugar, a família e
mostravam a beleza da vegetação, o nome das plantas, cantavam a música do
rádio. Tocou até Leandro e Leonardo e cantamos juntos! O triste fim da carona
chegou. Chegamos a cidade de Coyhaique (CL) no fim do dia, nosso destino a um novo destino
(isso mesmo). Trocamos e-mail, nos despedimos com abraços apertados e uma saudade que já começou desde aí.
Coyhaique (CL)
Cidade movimentada, com uma rodoviária maiorzinha, concreto,
prédios pequenos, semáforos, barulho. Preferimos não ficar ale e pegar um
ônibus para o próximo destino. Fizemos um lanche de rua, demos um rolé e
seguimos para Vila Santa Lúcia, onde ficamos de bobeira pensando na vida, pois
não havia transporte para entrar de volta da Argentina.
Vila Santa Lucia /
Futaleufú (CL)
Lá no centrinho de
Santa Lucia fizemos um lanche e ficamos rodando conversando com o pessoal para
ver como sair dali para a Argentina. Papo vai, papo vem conheço um caminhoneiro
que começa a conversar sobre caminhão, vulcão, copa do mundo e sua cidade,
Futaleufú que fica ali perto. Eu dei aquele sorriso da brasileira e falei que queria
entrar na Argentina para voltar pra casa. Claro que ele, chileno, gente fina,
não negou a carona. Lá vou eu de caminhão para outra cidadezinha. O caminho é lindo, de
cascalho, vista para rios de correntezas bravas que transformaram Futaleufú na
capital mundial do Rafting. Cheguei ao
centro de Futaleufú. Ele pediu como "pagamento" qualquer nota de real. Demos uns
17 reais em notas de R$10,00, R$2,00 e R$5,00. Agradeci demais e fui conhecer o
centro da cidade antes de escolher onde passar aquela noite.
Meu coração ficou
ali. Uma cidadezinha tão minúscula, que eu conheci “sem querer” me conquistou
para sempre. Tudo feito em madeira na praça do centro da cidade, padarias
lindinhas, lojinhas fofas, agências de viagem e de esportes, centro de
informações turísticas, ruas limpinhas, friozinho, montanhas em volta. E o
povo? Só alegria, só simpatia. Escolhi a hospedaria, ganhei café e chá como cortesia,
que tomei assistindo TV na sala em frente a um janelão que mostrava muito da
rua e do entardecer. Saí para dar uma volta tranquila, pois sentia que eu fazia
parte dali, já tinha um amigo (o caminhoneiro) e o pessoal das informações
turísticas. Como a cidade só tinha meia dúzia de pessoas eu já estava andando e
dando boa noite aos meus “chegados”. Dali não sairia transporte para a
Argentina no dia seguinte, então a solução seria??? HACER DEDO no dia seguinte
na saída da cidade. Então eu dormi tranquila e quentinha, tomei café, acertei a
conta, fui na padaria gastar o resto de pesos chilenos que eu tinha.
Comprei
café em sachê, pães, salgadinhos e água. Fui para a parada de ônibus da estrada
que ia para a argentina, com a mochila e as comprinhas, sentei e esperei. Logo
um taxista parou e ofereceu carona. Eu estranhei, pois ia dar muito caro... Mas
foi de graça mesmo. Oh carona abençoada. Ele estava indo para Esquel, na
Argentina, passando por Trevelin. Ótimo para mim que queria fazer o caminho
para Buenos Aires e dar uma passada em algumas cidades pelo caminho para
aproveitar o restinho de tempo.
Esquel/Bariloche (AR)
O taxista estava indo
abastecer o carro na Argentina, porque era mais barato e nos levou de carona.
Passamos pelo posto da polícia que olhou nossos documentos, perguntou o que eu
era do motorista, para onde estava indo e porquê. Liberou logo a gente, ele era
conhecido do motorista. Durante o percurso batemos um papo no carro, ele fez
questão de ser bem gentil, aumentou o volume do som quando tocou the police e
falamos sobre música. Daí ele me levou até a rodoviária de Esquel, se despediu e eu
segui. Destino Bariloche.
Cheguei na cidade já era noite, dei uma volta pelo
centro, bati papo com um taxista que tava por ali. Se bem me lembro não era
época boa para esquiar, mas também nem faria diferença, pois eu morro de medo de esquiar,
então eu não ia. Depois de desfrutar da beleza da noite de Bariloche, peguei o
ônibus e segui para Neuquén (AR).
Beijos